domingo, 5 de setembro de 2010

O bom debate – Jayme Copstein

Agradeço e cumprimento o leitor Giordano Spinoza pela civilidade com que externa opinião desfavorável à coluna de sexta-feira ("A Nova Chicago"). É algo incomum. Gostaria que as discordâncias fossem assim conduzidas. Aproveitaríamos todos, leitores, jornalistas, os eleitores, quem participasse do debate.

Diz Giordani Spinoza: "Percebo que o amigo é pródigo. Precisou de uma coluna inteira do O Sul "A Nova Chicago", para declarar-se FHC, PSDB, Serra, a direita brasileira. By the way (= Por falar nisso): o eleitorado alemão de 1930 responsável pelo sofrimento citado pelo amigo no final da coluna, devo lembrar-lhe, era todo de direita."

Gostei também da ironia sobre o esbanjamento da "coluna inteira" para declarar uma posição política. Ainda que tal contrarie as convicções do leitor, não creio que seja depreciativo alguém admirar Fernando Henrique Cardoso. Mas, em 19 de maio de 2005 (tenho bons arquivos), como comentarista de opinião do Chamada Geral 2ª Edição, da Rádio Gaúcha (5 da tarde), eu afirmei:

"Fernando Henrique Cardoso no terceiro ano de um mandato de cinco, gozava de popularidade suficiente para fazer o Congresso votar todas as reformas necessárias e modernizar o país. Mas não resistiu à tentação de trocar a primogenitura pelo prato de lentilhas da reeleição e aí mostrou o calcanhar de Aquiles: em troca de mais três anos de mandato, renunciou à sua dignidade e entregou o país às feras."

Houve, então, quem me acusasse de "lulismo". Quem o fez não prestou a outro trecho do mesmo comentário:

"O governo do sr. Luiz Inácio Lula da Silva é repetição, sem tirar nem pôr, do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso. A mesma política econômica, virtude pequena diante das mazelas de corrupção, da barganha de votos pela reeleição, das más companhias de corruptos notórios. Enfim, tudo por tudo, só mudaram o nome do titular e dos seus apaniguados."

"Any way" (= Seja como for): no dia anterior a "A Nova Chicago", em "Aos gregos e troianos", eu defendia Dilma Roussef do besteirol que corre pela Internet, relembrando sua ficha na Polícia Política da ditadura militar. Seria eu, então, um esquerdista, em contraposição a "FHC, PSDB, Serra, a direita brasileira?"

Creio que esclareci em seguida: "Confesso humildemente que nem sei quem é grego ou troiano. O confronto é mera imagem diante do espelho: o que em um é esquerda, no outro é direita. O sim do lado de cá é o não do lado de lá. Corrupção quando praticada por "eles", para "nós" é mera retribuição pelo desprendimento de zelar para que eles não se "retribuam", impedindo que "nós" nos corrompamos".

Para encerrar o assunto trecho do artigo do jornalista e poeta Ferreira Gullar, na Folha de São Paulo de ontem:

"Faz muitos anos já que não pertenço a nenhum partido político, muito embora me preocupe todo o tempo com os problemas do país e, na medida do possível, procure contribuir para o entendimento do que ocorre. Em função disso, formulo opiniões sobre os políticos e os partidos, buscando sempre examinar os fatos com objetividade."

A propósito: vale a pena ler o Gullar em "Vamos errar de novo?" (http://tinyurl.com/3yqydph).


 


 

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Tempo de verbo – Jayme Copstein

O que um tempo de verbo pode fazer com a verdade acaba de ser demonstrado em episódio, envolvendo o Arcebispo Agostino Marchetto, secretário do Conselho Pontifício para os Migrantes e Itinerantes. O Vaticano viu-se obrigado a esclarecer equívoco não cometido por seu prelado e até agora não retificado pelos jornais que o publicaram.

Jornais europeus estamparam em 27 e 28 de agosto, manchetes afirmando que o Vaticano havia comparado a expulsão de ciganos, anunciada pelo presidente francês Nicolau Sarkozy, com o massacre praticado pelos nazistas contra judeus, eslavos, deficientes físicos e mentais e os próprios ciganos.

As reiteradas tentativas de antissemitas, de banalizar o Holocausto, para absolver o nazismo dos seus crimes contra a humanidade, faz com que analogias do gênero desencadeiem protestos, como aconteceu com as declarações do Dom Marchetto. O Governo francês que já enfrentava críticas da União Europeia, ofendeu-se ao ser supostamente comparado aos nazistas.

Só que o Arcebispo não afirmou que a expulsão de ciganos da França fosse um holocausto, mas apenas referiu-se aos riscos da generalização que, no passado, levaram ao Holocausto,

Textualmente, segundo o Portal Católico Zenit: "Quando acontecem expulsões, sofrimentos, não posso me alegrar pelo sofrimento dessas pessoas, em particular quando se trata de pessoas fracas e pobres que foram perseguidas, que foram vítimas, dessa forma, de um holocausto".

O Vaticano argumenta que a transposição do verbo conjugado no passado (foram) para o presente (são), mudou o sentido das palavras do Arcebispo. O jornal português "Expresso", após afirmar que ele havia comparado a decisão do Governo francês com um "novo" Holocausto, publicou como declarações literais: "Não posso alegrar-me com o sofrimento dessas pessoas, em particular quando se trata de pessoas débeis e pobres que são perseguidas, que também são vítimas de um 'Holocausto' e vivem sempre escapando aos que as perseguem."

Outro trecho da entrevista, não enfatizado no noticiário, em que o Arcebispo ressalvava que punições não podem ser coletivas, já indicava o erro da transposição do verbo: "É preciso prestar atenção às diferenças e não podemos culpar toda uma população pela falta de cumprimento da lei por parte de alguns." Dom Marchetto estava se referindo ao preconceito que faz as pessoas generalizarem para todo o grupo étnico, religioso, político, social ou econômico eventuais infrações de alguns de seus membros.

A crítica mais sólida feita ao Governo Sarkozy é o de oportunismo: usar delitos e crimes protagonizados por alguns dos ciganos vindos da Romênia para expulsá-los todos da França. Tanto eles como os oriundos da Bulgária são pessoas pobres, marginalizadas em seus próprios países e que se aproveitaram do livre trânsito da União Europeia para buscar melhores condições de vida.

O problema é que não há como evitar conflitos quando culturas diferentes entram em contato. É necessário grande dose de tolerância e compreensão mútua, para que os problemas sejam superados. A prática é muito mais difícil do que sugere a teoria.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A nova Chicago – Jayme Copstein

Se a velha Chicago tinha os "gangsters" de Al Capone, Brasília, a nova Chicago, tem os apaniguados de Luiz Inácio Lula da Silva. Eles estão aí desde que o PT assumiu o Planalto em 2002. Começaram a agir tão logo puderam manipular os cordéis do poder .

Nem se diga serem irresponsabilidades fora de controle, como Lula quis fazer crer em 2006, quando criou os "aloprados" para livrar a cara da "cumpanheirada", principalmente Aloízio Mercandante, José Genoíno, e de dirigentes do Banco do Nordeste, origem do dinheiro para financiar a tentativa abortada de chantagem contra o mesmo José Serra, então candidato ao governo paulista. Nem Mercadante nem Genoíno tinham como negar o envolvimento na fraude, alegando ignorância, pois ela nascera no gabinete de Mercadante e envolvera o irmão de Genoíno, José Nobre, deputado estadual no Ceará, cujo assessor Adalberto Vieira foi flagrado com 100 mil dólares nas cuecas.

Não era o primeiro flagrante da intrujice. O próprio escândalo do mensalão estourou porque Zé Dirceu, então chefe da Casa Civil, tentou chantagear o aliado trabalhista Roberto Jefferson, para alijá-lo da sinecura dos Correios onde estava aboletado com a sua trupe, usufruindo o quinhão ganho na divisão do butim.

O tiro saiu pela culatra porque em matéria de esperteza, quando Zé Dirceu recém toma a estrada de ida, Jefferson há muito tempo já está de volta. O mensalão é o maior escândalo de toda a história da República. Se nele não estivessem implicada uma maioria de congressistas, o Brasil teria repetido a impeachment que, por muito menos, alijou Collor da presidência.

Diante da impunidade, a violação à garantia constitucional do direito à privacidade tornou-se praxe de integrantes do Governo, não poupando sequer companheiros e até um humilde caseiro, Francenildo Santos Costa, para desmoralizá-lo como testemunha de que alguns espertalhões se valiam das aventuras galantes do então ministro da Fazenda, Antônio Palocci, para realizar bons negócios. E de dossiê em dossiê, chegamos ao mais degradante nível do banditismo político, a utilização de um estelionatário fichado na Polícia, para invadir o sigilo fiscal de uma filha de José Serra.

É de estarrecer. Se a candidata de Lula já teria, segundo pesquisas de opinião, possibilidade de vencer as eleições ainda no primeiro turno, e ninguém estava contestando esses números, por que golpe tão baixo? Serão verdadeiras estas pesquisas, se nem os seus beneficiários nelas confiam?

Não há respostas para estas perguntas, a não ser a desconfiança de que toda a campanha eleitoral de Dilma Roussef seja uma fraude e sua tática seja passar impingir aos eleitores dos seus antagonistas, o "conto da já-perderam". Cairão eles nesta arapuca?

O Brasil é uma democracia e democraticamente terá de resolver por quanto tempo o será. Serão os eleitores que vão decidir esta questão crucial em 3 de outubro. Se por maioria compactuarem com o vale-tudo dos meios justificando os fins, não terão do que e, pior ainda, nem como se queixar da parcela de sofrimento que lhe será destinada, tal como aconteceu com os alemães no início da década de 1930.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A gregos e troianos – Jayme Copstein

Pois hoje é dia de desagradar gregos ou troianos porque a troianos ou gregos tenho desagradado com frequência. Confesso humildemente que nem sei quem é grego ou troiano. O confronto é mera imagem diante do espelho: o que em um é esquerda, no outro é direita. O sim do lado de cá é o não do lado de lá. Corrupção quando praticada por "eles", para "nós" é mera retribuição pelo desprendimento de zelar para que eles não se "retribuam", impedindo que "nós" nos corrompamos.

As reflexões me vêm à cabeça quando apago as milésimas mensagens, relembrando a ficha de Dilma Roussef na Polícia Política que aqui, como na Alemanha ou na Rússia, também teve vários nomes, sendo DOPS o mais conhecido. E me vêm à cabeça, porque são as mesmas de quando apaguei as milésimas mensagens dos revogadores da Lei da Anistia, com a qual todos – eles e os outros – concordaram há mais de 30 anos, para devolver ao país a tranquilidade política.

A Lei foi assinada por ambos. Vale para gregos e troianos, sem apelação. Mesmo porque, nesta pornografia de proporções oceânicas em que se converteu a política brasileira, a putaria da troca de casais, conhecida como "swing", soa tão inocente que até pode ser confundida com lições de catecismo na escola dominical. Não dá mais para saber quem é de quem.

Socialismo delinquente

O Portal Contas Abertas (HTTP://contasabertas.uol.com.br) traz revelação interessante sobre Dona Antonia Aparecida Neves Silva, a funcionária da Receita Federal cuja senha foi usada para acessar dados fiscais e fabricar o dossiê que o grupo de inteligência (??!?) da campanha de Dilma Rousseff pretendia usar como arma contra seus adversários tucanos. Entre as vidas devassadas pelos novos "aloprados", estava o da apresentadora Ana Maria Braga, talvez por suspeitarem que pudesse participar dos filmes de propaganda de Serra. Tudo no melhor estilo Gestapo e KGB.

Segundo fonte do próprio Governo, o Siafi (Sistema de Acompanhamento de Receitas e Despesas da União), Dona Antônia Aparecida, a dona da senha que permitiu o acesso ao cadastro dos contribuintes, dez dias após a violação fiscal, foi para o Rio de Janeiro, com total de diárias de R$ 1.300,00, para participar de treinamento e desenvolvimento de gerentes e agentes da Receita Federal.

Faz sentido: quem assim "socializa" sua senha mostra qualidades ideológicas que a credenciam para missões mais grandiosas.

A propósito

Portais de notícias e assinantes de newsletters estão sendo prejudicados pela inundação de "spams" eleitorais. Os provedores foram obrigados a implantar filtros mais abrangentes para proteger os usuários. Muitas mensagens acabam na pasta de quarentena nem sempre acessada.

A Justiça Eleitoral providenciou medida para coibir o abuso. A partir de agora, as mensagens eleitorais devem exibir fornecer link de descadastramento, prevendo-se multa caso os spams continuem a ser enviados.

Telemarketing

É pouco. Melhor ainda, caso fosse possível aplicar aos "spams", o bloqueio que já existe em relação ao "telemarketing". Basta cadastrar no PROCON Estadual os números das linhas (duas no máximo), para impedir o abuso. Há pesadas multas aos infratores.

Acessem http://www.proconbloqueio.rs.gov.br/ para obter as instruções que começam o cadastramento prévio do interessado.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Falta de rima – Jayme Copstein

Agosto está chega ao fim sem que nenhuma tentativa de golpe de estado tenha acontecido. Os mais prudentes alertam ser preciso esperar ainda 24 horas para se esvair completamente a maldição do mês.


 

Os crédulos que me perdoem, mas é tudo infantilidade, tipo "O bafo da múmia" ou "O pum do vampiro" que o cinema explora desde seus tempos mais remotos. Olhando para trás, fora o suicídio de Getúlio (24 de agosto de 1954), só tivemos a renúncia de Jânio Quadros (25 de agosto de 1961). Nenhuma das crises que abalaram o Império aconteceu no mês maldito. A Questão Religiosa começou em março de 1872, e a Questão Militar desembocou na Proclamação da República, em novembro de 1889. E todo o resto, depois, a Revolução de 1930, o fim do Estado Novo, o impeachment de Collor aconteceram em outubro, e nem por isso é considerado o mês das crises.


 

A maldição de agosto é mera questão de rima – mês do desgosto. Que pena. Julho até que rima com bagulho, mas como nenhum mês termina em "uno" – de gatuno – neste país rouba-se adoidamente, de janeiro a dezembro.


 

Velha América Latina


 

O casal Kirchner está de briga com a imprensa na Argentina. No palco, para a plateia, o discurso dos excessos da mídia a serviços de interesses ocultos - enfim, toda aquela coleção de chavões a que estamos acostumados em nossa Velha e Mesmíssima América Latina. Nos bastidores, a crise que assola a economia argentina com a hiperinflação voltando a ameaçar as finanças e, apesar de todos esses pesares, o patrimônio do casal crescendo nada menos que 710,55% nos últimos sete anos.


 

Um dos negócios dos Kirchner se assemelha ao da venda milionária da empresa de jogos eletrônicos, feita pelo filho do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva a uma concessionária de telefonia. O casal presidencial também tm sorte incomum nos negócios: por 34 mil dólares (R$ 59.800) comprou um terreno de 20 mil metros quadrados à prefeitura de El Calafate, Província de Santa Cruz, Patagônia. Três anos depois vendeu o mesmo terreno por 1 milhão 650 mil dólares (R$2.900 mil), com lucro de 4752%, recorde mundial em transações imobiliárias, digno de registro no Guinness.


 

A sorte dos Kirchner não para por aí e também guarda semelhança com o antigo deputado brasileiro, João Alves, conhecido "anão do orçamento". Alves gabava-se de ter ganho mais de uma centena de vezes o prêmio maior da loteria esportiva. As aplicações financeiras dos Kirchner conseguem rendimentos 20 vezes superiores aos das pessoas comuns.


 

Ninguém perguntou ao ilustre casal sobre suas fontes de renda. Néstor pode alegar 7.600 dólares (R$ 13.400) mensais como ex-presidente, Cristina recebe 3.900 dólares (R$ 6.450) como presidente. Fariam lembrar outra figura brasileira, a ex-ministra da Fazenda, Zélia Cardoso de Mello. Quando perguntada como conseguia financiar sua vida folgada em Nova York, respondeu que    era com a pensão do ex-marido, o comediante Chico Anísio lhe pagava.


 

Desafio aos gaúchos


 

Aplausos ao Vereador Walter Nagelstein, titular da Secretaria Municipal de Indústria e Comércio de Porto Alegre. Neste fim de semana, endureceu a fiscalização de bares e restaurantes da cidade, exigindo o cumprimento da proibição de se fumar fora dos espaços reservados. Foram aplicadas multas a 11 estabelecimentos infratores.


 

Que não se venha com a histeria da "indústria das multas". Lei é feita para se cumprir. Quem não quiser ser punido, que não a infrinja.


 

Rir ou chorar? – Jayme Copstein

O Supremo Tribunal Federal ocupa-se hoje de questão transcendental para a nacionalidade: se podemos ou não rir das patuscadas dos nossos políticos Como conseguimos passar 510 anos de história sem tomar uma decisão a respeito? É por isso que o Brasil não vai à frente...

Já que o STF sempre se vale de precedentes para firmar jurisprudência, vale a frase de José do Patrocínio, ao discursar em comício ao qual comparecera cansado, com os pensamentos dispersos.

"Somos um povo...." – começou Patrocínio. E engasgou, sem encontrar a continuação. Fez uma pausa e recomeçou: "Somos um povo...". E de novo engasgou.

A plateia começou a murmurar e logo vieram as risadas. Foi o suficiente para Patrocínio explodir na frase: "Somos um povo que ri quando devia chorar".

Já que os nossos políticos são os patuscos que são e ninguém vai para a cadeia, Só nos resta rir.

Dia do Professor gaúcho

Passado quase um ano, ninguém me socorreu com a informação de que existisse em Porto Alegre rua com nome do professor baiano Manoel Simões Xavier, como havia pedido em "O negro que nos ensinou o be-a-bá", em 15 de outubro do ano passado, Dia do Professor. Acabei descobrindo sozinho e por acaso: é a ruazinha da parte de trás da Praça Tito Tajes, na Tristeza.

Volto ao assunto hoje, 1º de setembro, porque acho que deveria ser o Dia do Professor Gaúcho. Nele, em 1778, Manoel Simões Xavier instalou a primeira aula de instrução primária, dando início oficial ao ensino primário em Porto Alegre. Simões Xavier era negro. Se esta condição de pele ainda hoje enfrenta preconceitos, apesar da evolução dos costumes e da legislação repressiva, imagine-se o que seria cem anos antes da Abolição.

De fato, a Câmara Municipal rebelou-se quando o governador José Marcelino, impressionado com o desempenho de Simões Xavier na cidade do Rio Grande, desde 1770, o chamou para dar início ao ensino primário regular na nova Capital. No tempo do Brasil Colônia, aulas de acesso público só podiam ser instaladas sob permissão expressa da Coroa Portuguesa. José Marcelino empenhou-se para consegui-la e, para atrair o baiano a Porto Alegre, prometeu-lhe pagar o aluguel da casa onde instalasse o curso.

Os vereadores recusaram, alegando não haver dinheiro, não ser de sua competência decidir sobre o assunto e não haver amparo no regimento da Câmara. Por trás da recusa, a rejeição ao negro que se reflete, em 1961, em texto de Ary Veiga Sanhudo, calcado em relatos da época: "(...) Quatro anos depois viria o mulato Manoel Simões Xavier com sua mulher, uma crioula gorda, instalar aula aqui e criar um sério problema para a Câmara (...)". (Crônicas da minha cidade, 1ª edição, Livraria Sulina, Porto Alegre).

O Governador José Marcelino, mandão de marca, não teve maiores dificuldade em dobrar a Câmara. Como já fizera antes, para transferir a capital de Viamão a Porto Alegre, ameaçou prender os vereadores. Foi assim que em 1º de setembro, Simões Xavier deu início às suas aulas. Sabe-se disso por ofício que lhe endereçou no dia seguinte o próprio Governador, querendo saber com quantos alunos as aulas tinham começado.

Nunca se soube. Se houve resposta de Simões Xavier, ela se perdeu.


 

domingo, 29 de agosto de 2010

Baile das cobras – Jayme Copstein

Com as pesquisas indicando que Dilma Roussef pode eleger-se presidente no primeiro turno, começa a pipocar na imprensa o "remake" de um velho filme: a tentativa do PT de detonar aliados, dos quais acha que não precisa mais. "Folha de São Paulo" publicou ontem que o vice de Dilma, Michel Temer, não consegue explicar significativo aumento de patrimônio, omitido na declaração de bens à Justiça Eleitoral. Mudou para erro de digitação a primeira versão de honorários polpudos supostamente ganhos como advogado de ação antiga, porém inexistente na Justiça de São Paulo.

Nenhuma informação chega a qualquer jornal, seja ao "Times" de Londres ou ao "Arauto da Moralidade Pública e Privada" de São João das Pantufas, sem que alguém "dê o serviço". No caso, em vez de "siga o dinheiro" para desmascarar o ladrão, a frase é "a quem interessa" para identificar a fonte.

Não há, na legislação eleitoral, prazo para substituir candidato a presidente, governador ou senador e seus respectivos vices e suplentes. A primeira tentativa de explodir candidatos, que deu certo, vitimou Roseana Sarney, com grande lucro: a culpa foi atribuída ao Governo de Fernando Henrique Cardoso, o que trouxe para as águas de Lula a figura impoluta e o caráter sem jaça de José Sarney.

Se os demais fidalgos da luzidia coorte (Jader Barbalho, Renan Calheiros & Cia Ilimitada) – se incorporaram ao beija-mão por solidariedade a Il Cappo ou por temer que lhes acontecesse o mesmo, pouco importa. Deu certo. Agora a receita está sendo aplicada em Michel Temer porque ele não será uma figura dócil e decorativa, como Hector Campora, o mamulengo de Perón, o foi na Argentina.

No baile de cobras em que se transformou a sucessão presidencial, Dilma, por "n" razões, é a figura mais frágil. Uma delas diz respeito à sua personalidade. É incorruptível, diligente e obsessiva tanto em cumprir como em exigir o cumprimento de metas, enfim um conjunto de predicados considerados virtude na vida privada, mas tidos como grave defeito na política – o da falta de "jogo de cintura", seja lá o que isso signifique.

Até que ponto a capacidade de resistir de Dilma a imunizará contra as inevitáveis pressões consequentes à sua "falta de cintura" a levará a episódio como o protagonizado por Jânio Quadros? Nesta hipótese, para "salvar" o país da crise, quem melhor que Lula, com seus 80% de popularidade? Seria o chavismo à brasileira.

Para que o projeto dê certo, é necessário maioria confortável no Congresso, para remover da Constituição o impedimento legal, como já foi feito com a reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Além de o PT estar empenhado decisivamente nas eleições para o Congresso em todos os Estados, Zé Sarney, o dono do terreiro, já foi avisado para não se meter de pato a ganso. O "novo" dossiê contra Roseana, sua filha dileta – agora não tem como acusar FHC – foi apenas o requentamento da denúncia de 2002.

A resposta de Sarney está em seu artigo de 27 de agosto, na "Folha de São Paulo": "O resultado do conjunto das pesquisas orienta as manipulações: hora de bater, de informar, de distorcer, de exaltar, de alegrar, hora da razão, da emoção (...) e, por trás de tudo, a turma do dossiê, 'da maldade', que, conjugada com os jornalistas de investigação, vivem à cata do fato sujo, do escândalo, do provérbio da politicagem 'onde não tem rabo a gente põe'.

Todas as cobras do baile estão arregaçando seus caninos. Cuide-se quem não tiver perneiras.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Sem alho nem espelho – Jayme Copstein

A melhor coisa que já li sobre a campanha para a Presidência da República, até agora, foi escrita por Carlos Brickmann. Para amenizar o fim de semana, eis o texto:

"Numa chapa, José Serra; na outra, Michel Temer. Ambos fariam sucesso na TV: nem precisariam de maquiagem para estrelar a Família Adams. Ambos fariam sucesso no cinema: Temer é o próprio Bela Lugosi, o astro de Drácula, e Serra nada fica a dever a Boris Karloff, o eterno Frankenstein - nem na cor da pele. Vale a pena ver na TV (passa com frequência) o Crepúsculo dos Deuses, obra-prima de Billy Wilder, em que o austríaco Erich von Stroheim faz o papel de um sinistro mordomo apaixonado pela patroa. Stroheim está ótimo no filme. Mas, se Billy Wilder conhecesse Michel Temer, não hesitaria: o papel seria dele.

Ambos preferiram outras carreiras, e nelas tiveram amplo sucesso. O mais perto que chegaram do show business foi a política, e nela também demonstraram grande capacidade. Um é candidato da oposição à Presidência, outro a vice na chapa da situação. Um só fala em saúde, apoiado em sua aparência saudável. O outro, jurista de peso, um dos grandes constitucionalistas brasileiros, não falou nada, até o momento, contra o crime que se comete contra os direitos individuais, com a violação maciça do sigilo fiscal de dirigentes adversários.

Um dos dois deve chegar lá. De acordo com as tradições populares a respeito de vampiros e demais seres fantasmagóricos, apoiadas em sólidas narrações literárias, essas criaturas não têm a imagem refletida no espelho, e por isso o evitam. E o alho faz com que desapareçam imediatamente. Que país será este, no momento em que não tivermos espelhos e a nossa comida ficar sem tempero?"

Ideia para Serra

Sérgio Machado, da cidade do Rio Grande, sugere para esquentar a campanha presidencial:

"A ideia pode ser meio maluca, mas no atual andar da carruagem até faz sentido. Se a legislação eleitoral tiver previsão que o candidato a vice, no impedimento do titular, assuma a campanha como titular, vamos imediatamente começar uma campanha para a renúncia do Serra, que assim poderá assumir, sem constrangimento, o Ministério da Saúde da Dilma, a candidata do Presidente que ele admira e respeita".

Sérgio Machado acrescenta que Índio da Costa, no comando da campanha, descerá o sarrafo na candidata do Governo. Sua preocupação "com que se desenha no horizonte não é mais Serra perder, é perder por uma goleada histórica que vai aniquilar as oposições no Brasil e mexicanizar nossa política".

Aproveito a deixa para discordar do termo "mexicanização", usado com frequência no Brasil como rotulo de ditaduras populistas que aprenderam a se mascarar de democracia através de mil e um subterfúgios legais. O termo historicamente mais adequado é "abrasileiramento". O México nada mais fez, a partir de 1929, com seu Partido Revolucionário Nacional, depois rebatizado de Partido Revolucionário Institucional, senão copiar os nossos "republicanos" e sua ditadura positivista, aqui implantada em 1889 e derrubada em 1930.

Melhor dito: substituída por outra ditadura, derrubada em 1945 por uma democracia, também derrubada em 1964, por uma democracia que está sendo substituída por uma ditadura vestida com "sombrero", só para dissimular que não é a mesma de 1889.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Alan Kardec no Brasil – Jayme Copstein

Fico sabendo, por informação do colega Carlos Brickmann, que "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec, em nova tradução de Alberto Adriano Maçorano Cardoso, 488 páginas, está sendo lançado em papel (R$ 46,00) e em arquivo eletrônico (R$ 12,90).

Os preços me parecem excessivos, considerando-se que é obra em domínio público e tem mercado garantido de milhões de adeptos do Espiritismo no Brasil. Edição anterior, traduzida por Guillon Ribeiro, poliglota e vernaculista elogiado até por Ruy Barbosa, pode ser baixada, gratuitamente, em http://tinyurl.com/29pbh8u, ou comprada, a partir de meros R$ 10 reais em papel, ou por R$ 21,90 em audiolivro gravado por Carlos Vereza e sua filha, a atriz Larissa Verezo.

Não é essa a questão que eu desejava focalizar neste momento, ainda que a alusão ao abuso do preço me pareça importante. Parece-me, sim, que o lançamento da nova tradução, comparado com o que já existe, liquida a polêmica sem sentido sobre o futuro do livro, quando tal jamais esteve em debate, mas apenas a midia ou o veículo como queiram chamar o material através do qual ele ganha vida exterior ao do cérebro que o engendrou.

Os nostálgicos do papel, tal como ocorreu antes com os do papiro e do pergaminho, podem prolongar sua utilização por mais dez ou vinte anos, mas acabarão rendidos a duas realidades. A primeira é a falta de sentido de sacrificar uma floresta, agredindo o meio ambiente e encarecendo o preço final com os custos que começam com o abate de árvores, passam pela fabricação da celulose, do papel, da tinta, da cola, e terminam na impressão, encadernação, empacotamento e distribuição.

A segunda é que o livro como conceito nunca esteve em debate. No momento em que os antagonistas da versão eletrônica perceberem que tanto faz imprimi-lo na cabeça de um alfinete – há quem consiga – ou em Lâminas de ouro ou lajotas de cerâmica, desde que não perca o conhecimento que armazena, toda a resistência cessará.

Mural

Sobre "Cordoba Center", coluna de anteontem, Levy escreveu:

"Assisti também à tal entrevista [de Feisal Abdul Rauf, defendendo a localização do Centro] no 60 minutes. O sujeito líder da comunidade islâmica falava em tudo, menos liberdade religiosa. Disse, entre outras coisas, que a construção do Centro faria com que mais muçulmanos entrariam em NY e que isso traria mais negócios, gerando emprego etc. Grande preocupação com a liberdade religiosa! A construção do Centro no local pretendido é ofensivo às famílias que perderam seus entes naquele ato praticado em nome de uma religião. É dizer aos radicais muçulmanos: Venham, ataquem-nos. Em troca, construiremos mais mesquitas para vocês! Tente construir um centro cristão, uma igreja batista ou católica em Riad. Cadeia ou morte e sem julgamento. Sustentar direito à liberdade religiosa em casos como esses, constitui, de duas, uma: hipocrisia ou má-fé ou mesmo as duas."

Sobre "Deus e os Baha'is", coluna de ontem, Iradj Roberto Eghrari manifestou:

"Parabéns pela lucidez e clareza de seu artigo. Como bahá'í brasileiro sinto serem fundamentais manifestações como a sua para que possamos criar massa crítica na opinião pública de nosso país para que assim a voz da liberdade e da eliminação dos preconceito religioso brade bem alto para que as autoridades iranianas percebam que não iremos nos silenciar face as cruéis injustiças cometidas no Irã contra os bahá'ís e todas as minorias lá perseguidas, sejam elas étnicas, religiosas, homossexuais, e tantos outros."

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Deus e os Baha’is – Jayme Copstein

A propósito da polêmica em torno do Cordoba Center, que a comunidade islâmica deseja construir em Nova York, nas proximidades do World Trade Center (WTC), Lucy Miriam escreve, sobre caso de gratuita intolerância religiosa, envolvendo um brasileiro no Egito. Ele é guia turístico. Foi preso na quarta-feira da semana passada com duas mulheres, também brasileiras, sob acusação de proselitismo religioso.

A identidade dos envolvidos não foi divulgada. As mulheres já foram libertadas. A Embaixada do Brasil no Cairo desenvolve esforços para que o homem também seja solto.

Qual foi o crime do brasileiro? Subiu no topo de uma pirâmide e começou para pregar a "sua" Salvação? Invadiu um minarete para proclamar que Allah é Allah, mas Maomé tem de disputar o ouro olímpico com Moisés, Paulo de Tarso ou Buda?

Nada disso. O brasileiro em questão é evangélico. Carregava no automóvel exemplares da Bíblia e alguns folhetos com textos religiosos. É crime em um país islâmico, mesmo no Egito onde o fundamentalismo não predomina.

Lucy Miriam mandou a notícia sem a intenção de incluí-la no debate sobre a construção do Cordoba Center, mas "para assinalar a hipocrisia com que o jornalismo internacional trata questões de liberdade de expressão, quando se trata dos Estados Unidos".

"Parece que o mundo vem abaixo", acrescenta Lucy Miriam. "Nem uma palavra mais severa é dita quando a conveniência política faz descer a venda e a mordaça da ideologia sobre o martírio dos bonzos tibetanos, sob o tacão da China, ou dos Bahá'is, sufocados pelos xiitas do Irã."

A leitora tem razão. Particularmente no que diz respeito aos Baha'is do Irã, há noticiário nos jornais, porém sem a veemência com que se trata agora o caso do Cordoba Center, em que ninguém foi preso por ser contra ou a favor. Em agosto passado, sete líderes Baha'is foram condenados no Irã, acusados de "espionagem para Israel, blasfêmia contra o Islã e corrupção na terra".

De fato, o centro místico da Fé Bahá'i (6 milhões de adeptos em 176 países, 57 mil no Brasil) foi erigido em Akko, cidade do Norte de Israel, quase na fronteira com o Líbano, onde está sepultado seu fundador, Mirzá Hussein Ali, conhecido como Bahá'u'lláh (título religioso). O santuário, porém, foi ali construído ainda no século 19, ao tempo do Império Otomano, quando perseguido pelos clérigos islâmicos, Mirzá Hussein Ali foi banido sucessivamente de Teerã, Bagdá, Constantinopla e Adrianópolis, até ser confinado em Akko, cidade-prisão, na qual faleceu.

Já, então, Bahá'u'lláh também era acusado de blasfêmia contra o Islã e corrupção na terra ao pregar a origem divina de todas as religiões, a igualdade para o homem e a mulher (em pleno Século 19!!!) e abolição dos dogmas e do clero, para tornar a devoção ao Criador exercício da liberdade de ser e de sentir de cada um. Só para os leitores terem ideia das terríveis blasfêmias de Mirzá Hussei Ali, eis alguns de seus pensamentos:

A luz é boa, não importa em que lâmpada brilhe (...) uma flor é bela, não importa em que jardim floresça.

Somos as folhas e os ramos de uma mesma árvore (...) as gotas de um único mar. A humanidade assemelha-se a um pássaro, uma asa é o homem e a outra, a mulher. O pássaro não pode alçar voo sem o equilíbrio dessas duas asas...

Deus é um, a religião é uma, a humanidade é uma... o objetivo da criação humana é conhecer e adorar a Deus... Todas as religiões provêm de um mesmo Deus.